Quem tem medo da liberdade?

19/11/2011 17:14

    Ainda que soe absurdo, não é raro nos depararmos com seres que temem ser livres. Não menos incomuns são situações em que nós mesmos temos medo da liberdade. Não foi com menos estranheza que identifiquei em mim o medo de ser livre. Seria mesmo possível temer algo que, ainda que inconscientemente, é avaliado como bom e desejável por todos?

    O primeiro desses motivos corresponde ao fato de a liberdade permanecer, em grande medida, uma realidade desconhecida. Neste ponto, é importante esclarecer não se tratar aqui de liberdade de adotar qualquer atuação que não esteja dentro da lei. Pretende-se abordar, aqui, a dimensão interna desse conceito; a liberdade de pensar e de tomar decisões.

    Como segundo motivo, destacam-se os diferentes significados e formas de manifestação do temor à liberdade: o medo dos deveres, do fracasso, das opiniões alheias, da mudança, do arrependimento, das possibilidades. Como um dia afirmou o dramaturgo irlandês Bernard Shaw, a liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem medo dela.

    Assinei meu próprio atestado de medo da liberdade quando identifiquei, no medo de dizer não, condição recorrente em minha adolescência e juventude, uma manifestação do temor à liberdade. Durante boa parte da vida, aceitei de bom grado muito daquilo que me propunham. Daquela forma, não tinha que fazer o esforço de tomar decisões e não correria o risco de contrariar ninguém.

    É principalmente na vida do jovem que o caminho trilhado se desdobra em múltiplas e determinantes encruzilhadas. São escolhas que dizem respeito não apenas à pessoa com quem se quer casar ou à carreira a ser trilhada. Muitas das possibilidades que se apresentam ao jovem implicam, nem sempre de forma clara, na opção entre o efêmero e o permanente; entre o supérfluo e aquilo que é essencial para a existência. Em todas as situações é preciso ser livre para pensar e para, a partir daí, escolher o caminho que seja favorável em maior grau a realização da vida que se quer construir.

    É justamente a essa liberdade que a logosofia confere a mais alta hierarquia. Por sua vez, para que seja verdadeiramente desfrutada, deve ser acompanhada do conhecimento de si mesmo, dos recursos que se possui para trilhar o caminho e do objetivo que se pretende alcançar o que pode ser expresso, como síntese, na contundente fala do Gato de Cheshire à garota Alice, personagens de Lewis Carroll: "Para quem não sabe aonde que ir, não importa que caminho a tomar".

Você tem medo da liberdade?

 

(Fonte: Fábio Weikert Bicalho)